Nas últimas duas décadas, os
alunos brasileiros passaram a permanecer mais tempo na escola. Isso se deve a
uma série de políticas acertadas, entre elas, o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef), o programa Bolsa Família, as
políticas de progressão continuada e a valorização da educação pela sociedade
brasileira.
Esses avanços na escolaridade
média dos jovens brasileiros já têm reflexos no mercado de trabalho, com a
queda na desigualdade de renda. Entretanto, o aprendizado obtido por esses
jovens no fim do ensino médio ainda é muito baixo e não aumentou nos últimos
anos. Por isso o desempenho do Brasil em testes internacionais padronizados é
tão decepcionante.
Mas há exceções localizadas.
Cidades como Sobral, no Ceará, apresentam uma evolução excepcional no
aprendizado dos alunos. Como podemos fazer para que isso aconteça também no
resto do Brasil?
As políticas públicas devem
começar nos primeiros anos de vida dos alunos. Pesquisas recentes mostram como
as crianças já chegam à escola com diferenças enormes na capacidade de
aprendizado, dependendo do nível socioeconômico dos pais. As crianças que
crescem em famílias com sérios problemas emocionais, financeiros e sociais têm
o aprendizado comprometido para toda a vida.
Políticas públicas para
acelerar o desenvolvimento das habilidades cognitivas dessas crianças têm
apresentado retorno muito elevado. Na escola o foco tem que ser na
alfabetização. Também é necessário adotar o mesmo currículo em todas as escolas
da rede; medir o progresso dos alunos várias vezes ao ano; trocar os
professores que não estão obtendo sucesso; e premiar os melhores diretores e
professores. Além disso, no Ceará, parte dos recursos do ICMS que são
transferidos para os municípios depende de índices educacionais. Assim, os
prefeitos têm incentivos para melhorar a educação a fim de obter mais recursos.
Em âmbito nacional, o governo
federal deveria transferir parte dos recursos do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) para os estados e municípios com
base em critérios de efetividade na aplicação da verba. Os critérios devem
levar em conta a adoção do currículo nacional único; o uso de avaliações
externas anuais para acompanhar o aprendizado; a eficiência na aplicação dos
recursos (medida pela relação entre o Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica e gastos); a porcentagem de escolas com pelo menos 6 horas efetivas de
aula por dia; a valorização do bom professor; o uso do regime probatório para
seleção apenas dos melhores professores; a permissão para o funcionamento de
escolas charter (administradas privadamente) nos municípios e a intervenção
direta nas piores escolas.
Somente com uma postura firme
do governo federal em adotar políticas educacionais eficazes para aumentar o
aprendizado melhorar é que haverá melhora na qualidade das escolas e do
aprendizado. Situação essencial para aumentar a competitividade e a
produtividade da economia brasileira.
NAERCIO
MENEZES FILHO É PROFESSOR TITULAR E COORDENADOR DO CENTRO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
DO INSPER E PROFESSOR ASSOCIADO DA FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E
CONTABILIDADE DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO.